Tuesday, May 29, 2012

Homenagem a George P. Potamianos

Faleceu esta manhã num hospital de Lisboa o armador grego George P. Potamianos. 
Grande amigo de Portugal e admirador das nossas tradições marítimas, George Potamianos tornou-se conhecido entre nós a partir de 1976 como afretador do paquete FUNCHAL que depois adquiriu em Agosto de 1985. Em vez de levar o navio para a Grécia, fez o contrário, trouxe a família para Lisboa onde abriu um escritório e se dedicou a desenvolver a actividade de cruzeiros com grande sucesso. Empregou muitos portugueses e privilegiou sempre que possível as nossas empresas e portos. 
 Tive a sorte de o conhecer logo em 1985 numa sessão de leilão de navios da CTM, na sede desta empresa na rua de São Julião. Ao longo dos anos acompanhei sempre o seu trabalho, cheguei a ser seu colaborador e devo-lhe muito. O seu gabinete na Avenida 24 de Julho tem as paredes repletas de fotografias de navios, muitas feitas por mim ao longo dos anos. 
 George Potamianos foi um grande amigo do nosso País. Disse-me diversas vezes que se tivesse vindo para Lisboa uns anos antes teria evitado que os nossos melhores paquetes fossem para a sucata quase novos. Ainda veio a tempo de salvar o FUNCHAL e logo a seguir o INFANTE DOM HENRIQUE que reconstruiu em 1986-1988 e rebaptizou com o nome VASCO DA GAMA. Oriundo de uma antiga família grega de armadores com diversas gerações de experiência na operação de navios de passageiros, era um profundo conhecedor do mercado de navios de passageiros e dos cruzeiros e talvez o último dos grandes armadores Gregos tradicionais de paquetes. Nos últimos anos sentiu a concorrência violenta das grandes companhias de cruzeiros multinacionais que tudo têm feito para exterminar os poucos armadores independentes que ainda restam. Considerava muito injusta a utilização de mão de obra barata do terceiro mundo para tripular a frota mundial de cruzeiros e chamava aos actuais gigantes dos mares "navios esclavagistas." Resistiu enquanto pode a essa opção, o FUNCHAL chegou a ser o último navio de cruzeiros a operar no mercado internacional com uma tripulação nacional homogénea. 
 Percebia de navios como ninguém, a bordo dos seus paquetes tratava os tripulantes pelos nomes e nada lhe dava mais prazer que pegar num navio e remodelá-lo. Foi assim que o seu e nosso FUNCHAL se manteve com sucesso todos estes anos. Vi-o comover-se ao içar a bandeira portuguesa no FUNCHAL em 2001 quando alterou o registo, do Panamá para a Madeira e me disse, com lágrimas nos olhos que agora o navio teria à popa os nomes FUNCHAL e MADEIRA por baixo. 
 Além de Armador ilustre foi um homem bom, figura destacada mas discreta da comunidade ortodoxa de Lisboa, sei que ajudou muita gente a título particular. A George Potamianos devo algumas das melhores viagens da minha vida e a emoção única de ver regressar a Lisboa o VASCO DA GAMA como novo, - estava no cais a ver a chegada e ele insistiu que eu fosse o primeiro a subir a bordo assim que a escada foi colocada. 
 Nos últimos meses passei algumas tardes à conversa no seu gabinete, contou-me histórias ligadas à sua vida de armador, descreveu-me detalhadamente as suas primeiras experiências com navios de carga antes de se estabelecer em Portugal e partilhou com entusiasmo o seu último sonho de reconstruir o FUNCHAL que queria ver transformado um "iate de luxo". Deixa à frente da Classic International Cruises os filhos Alexandros e Emilios Potamianos, a quem vinha passando o testemunho nos últimos tempos. 
 À Família Potamianos e aos seus colaboradores mais próximos nas empresas e navios ligados à Classic International Cruises apresento os meus pêsames e simpatia por esta perda tão grande. 

LUÍS MIGUEL CORREIA - 29 de Maio de 2012 

Fotografia de George P. Potamianos lendo uma comunicação sobre cruzeiros a 11 de Novembro de 2011 no auditório do IPTM, em Paço D'Arcos
Texto e imagens /Text and images copyright L.M.Correia. Favor não piratear. Respeite o meu trabalho / No piracy, please. For other posts and images, check our archive at the right column of the main page. Click on the photos to see them enlarged. Thanks for your visit and comments. Luís Miguel Correia

5 comments:

Raquel Sabino Pereira said...

Sentidos pêsames à esposa, aos filhos e aos colaboradores. Uma perda irreparável. Hoje é um dia negro para todos nós. Um dia de que NUNCA nos esqueceremos, de tanto que tínhamos ainda para lhe dizer e para lhe agradecer.
De tanta honra que ainda tinha de lhe ser feita, pelo EXCELENTE trabalho, pelo sentido de JUSTIÇA e de Amor ao próximo, e pela infinita persistência e coragem por operar em Portugal.

Que descanse em paz e a sua Obra continue!

Luis Filipe Morazzo said...

Tive o privilégio de ter conhecido George Potamianos, quando ambos frequentávamos a casa de um amigo comum em Carcavelos. Ficava sempre deliciado com as longas conversas que mantínhamos, especialmente sobre o fabuloso trabalho que estava a realizar naquela altura, final da década de 80, a recuperação do paquete “Infante Dom Henrique”. Quem viu o maior paquete português, transformado num enorme destroço, naqueles infelizes anos que esteve encalhado em Sines, para em seguida assistir naquilo em que se transformou, um ainda belo e elegante navio de cruzeiros, a quem foi dado o nome de “Vasco da Gama”, fiquei imediatamente convencido que estava perante um verdadeiro armador de navios, pois um trabalho daquela magnitude e complexidade, só podia ter sido executado por um homem que estivesse por dentro de todos os segredos ligados ao armamento de navios. Agora só me resta torcer por todos aqueles que venham render, este verdadeiro amigo da marinha mercante nacional, queiram continuar singrar as suas águas. A toda a família Patamianos e a todos os colaboradores da empresa Classic International Cruises, apresento os meus sinceros pêsames.

Luis Filipe Morazzo

Luis Filipe Morazzo said...

Tive o privilégio de ter conhecido George Potamianos, quando ambos frequentávamos a casa de um amigo comum em Carcavelos. Ficava sempre deliciado com as longas conversas que mantínhamos, especialmente sobre o fabuloso trabalho que estava a realizar naquela altura, final da década de 80, a recuperação do paquete “Infante Dom Henrique”. Quem viu o maior paquete português, transformado num enorme destroço, naqueles infelizes anos que esteve encalhado em Sines, para em seguida assistir naquilo em que se transformou, um ainda belo e elegante navio de cruzeiros, a quem foi dado o nome de “Vasco da Gama”, fiquei imediatamente convencido que estava perante um verdadeiro armador de navios, pois um trabalho daquela magnitude e complexidade, só podia ter sido executado por um homem que estivesse por dentro de todos os segredos ligados ao armamento de navios. Agora só me resta torcer por todos aqueles que venham render, este verdadeiro amigo da marinha mercante nacional, queiram continuar singrar as suas águas. A toda a família Patamianos e a todos os colaboradores da empresa Classic International Cruises, apresento os meus sinceros pêsames.

Luis Filipe Morazzo

CAP CRÉUS said...

Lamento muito!
Obrigado por partilhar estes momentos com Potamianos.
Quase me fez chorar com esta parte do Infante D. Henrique.

R. Souto said...

Está provado. Uma má noticia nunca vem só. Agora neste país temos o "prazer" de ter más noticias todos os dias e "muito bem acompanhadas".
Como madeirense e amante dos navios, da sua história e tradição, agradeço a este senhor para sempre o que fez não só pela nossa marinha como pelo paquete "Funchal" em particular. Espero e desejo que os filhos mantenham a sua ideia e o seu projecto. Se não puder ser da mesma maneira ao menos que seja de uma maneira parecida.

Fica a nota que neste país foi necessário vir gente de fora (neste caso um grego) para se fazer alguma coisa em alguns sectores no que tem a ver com o mar e os navios. Basta ver os ferrys. Foi necessário vir um armador espanhol para termos outra vez serviço regular de passageiros do continente para as ilhas. É uma vergonha para um país como este com a tradição e historial que tem, mas ainda há quem pense que a perda das colónias justifica e explica tudo. Se não queremos fazer espero que ao menos não atrapalhemos quem vem de fora e quer fazer por nós, isto é, até termos "pernas para andar" em todos os sectores do mundo maritimo.